“Os principais agentes de nossa história são as pessoas” – Antônio Ermírio de Moraes.

A maioria dos funcionários da Votorantim hoje em dia conhecem a história por trás do início da nossa companhia – o jargão é até quase um clichê: 

“A história da Votorantim começa quando Antonio Pereira Ignacio e sua esposa Lucinda arrematam a massa falida do Banco União, e, dentre outras coisas, existia uma fábrica de tecidos chamada Fábrica de Tecidos Votorantim”. 

Você já parou para pensar que antes da Sociedade Anônima Fábrica Votorantim ser fundada em 1918 por Antonio Pereira Ignacio, existe toda uma história por trás dessa tal “falência do Banco União” e sua subsequente venda ao português? E você sabia que os trabalhadores da Fábrica de Tecidos tiveram papel importante nessa história? 

Entrega de presentes de natal para filhos dos operários da Fábrica de Tecidos Votorantim

Para entender tudo isso, precisamos compreender o cenário que a Fábrica de Tecidos estava inserida antes da compra por Pereira Ignácio: A Fábrica pertencia ao Banco União e estava em crise, seus trabalhadores estavam em greve, pois estavam em busca de melhores condições de trabalho naquele complicado ano de 1917. A crise econômica originada pelos reflexos da Primeira Guerra Mundial na economia era refletida no preço do principal produto de exportação do país, o café. A crise afetava todas as instituições brasileiras – mas as financeiras, principalmente os bancos, que tinham como sustentáculo o sucesso do empreendimento cafeeiro – estavam indo de mal à pior. E foi neste cenário de greve, crise econômica, reflexos da guerra na economia que o Banco União veio à falência e com ele todos os seus negócios – incluindo a Fábrica de Tecidos. 

 

O ACORDO DE GREVE 

É nesse cenário de crise, greve e desafios que Antonio Pereira Ignacio compra a massa falida do Banco União, em 9 de janeiro de 1918. O principal desafio agora era como lidar com aquela greve que já durava muitos meses. Os operários da Votorantim eram as engrenagens que moviam a Fábrica de Tecidos. Eram quase 2000 empregados, com mais de 1300 teares e 25 mil fusos a todo vapor, que faziam daquela fábrica uma das maiores do país. Nos primeiros meses de sua gerência, foi imprescindível sentar com os operários ainda em greve desde a antiga gestão da Fábrica e chegarem a um acordo. Ignacio acreditava no futuro da fábrica e precisava, junto aos operários, colocar aquela máquina para funcionar. 

A Votorantim, agora sob o comando de Pereira Ignacio, chegou a alguns termos com seus funcionários. Estes termos refletiriam no futuro do empreendimento, visto que, após o acordo a Votorantim passa de uma empresa falida à uma das maiores produtoras de tecidos do Brasil. O desempenho dos operários, aliados à uma modernização quase que total dos maquinários da Fábrica de Tecidos, e a gestão única de Pereira Ignacio, após o fim da greve coloca a Votorantim em um patamar nunca antes alcançado por uma empresa têxtil naquela época. O sucesso da firma têxtil permitiu a Votorantim dar passos largos nos anos 20, sendo o sustentáculo para os difíceis anos que estavam à frente. 

Abaixo, os termos do acordo de 1919 – veja que temos resoluções que se tornariam leis somente 24 anos depois, com a Consolidação das Leis do Trabalho. 

– Equiparação salarial entre homens e mulheres da mesma função. 

– Aumento de 30% dos salários dos operários. 

– Adicional de 20% para horas extras. 

– Proibição do trabalho infantil na Fábrica da Votorantim. 

Registro parte do acervo Memória Votorantim

 

RELAÇÕES FUTURAS

Essa história nos conta como que a direção da companhia caminha lado a lado com seus empregados desde o início de nossa trajetória. Desde 1918 a Votorantim busca trazer transformações nos locais onde está inserida, modificando a vida de funcionários e sociedade e, paralelamente, também ser transformada. Desde a modernização da Vila Operária nos anos 20, até a abertura de cinemas, escolas, creches e hospitais nos anos 40 e subsequentes, em Sorocaba e outras regiões, a preocupação da Votorantim com seus empregados e o empenho que estes têm com esse legado é uma via de mão dupla. 

Veja aqui, alguns exemplos dessa relação duradoura (as grafias originais serão mantidas): 

Relatório da diretoria de 1923 mostra as modernizações realizadas nas Vilas Operárias da Votorantim. 

“Villa Operaria – Na construcção das casas da nossa villa e destinadas á residencia dos nossos operarios, temos adoptado um estylo moderno e uniforme quer para as terreas, quer para as assobradadas, obedientes ás precauções de hygienicas as mais rigorosas, exigidas nas obras desta natureza. Esses melhoramentos geraes obedecem, não só a um plano de rigorsa esthetica, como de immediatos e directos benefícios ao nosso operariado, proporcinador de commodidades, confortos e salubridade á sua existencia. O número de casas operarias, que no balanço de 1922 era de 624, está agora elevado a 719” 

Em 1953 Relatório anual da empresa destaca a preocupação com o operariado frente ao surto de tuberculose que atingiu o país na época. 

“ASSISTENCIA SOCIAL – Um setor importante da nossa atuação foi o que se refere à parte social, cuja verba atingiu soma considerável. Mantemos hospital proprio e, para o combate à tuberculose e outras doenças, mantemos leitos proprios em sanatórios localizados nas diversas zonas climatéricas deste Estado, dando assim, tratamento adequado ao nosso operariado” 

Relatório de 1958 mostra a inauguração da escola infantil “Helena Pereira de Moraes” em Votorantim, considerada a maior escola infantil do Estado de São Paulo à época: 

“ASSISTÊNCIA SOCIAL – Continuamos a prestas, àqueles que conosco mourejam, bem como às suas famílias, uma condigna assistência hospitalar, tendo inaugurado em Votorantim, o que, sem falsa modéstia, podemos proclamar como o melhor parque infantil do Estado de São Paulo” 

Em 1960 a diretoria destaca a atuação com a distribuição de bolsas de estudos: 

“ASSISTÊNCIA SOCIAL – Não temos poupado esforços no desenvolvimento de um sistema que traga vantagens na melhoria do bem estar, da educação e da saúde de todos que conosco trabalham. O número de bolsas de estudo que estamos concedendo está cima de 200 e continuaremos a proporcionar oportunidades a todos que, ligados ao nosso conjunto industrial desejam melhorar suas aptidões” 

Relatório anual da Votorantim, 1923