Nosso acervo guarda registros importantes do pensamento moderno brasileiro, especialmente relacionados ao icônico ano de 1922 – entenda nessa matéria a relação da Votorantim, a história do cinema e a maior exposição já feita no Brasil. 

As duas primeiras décadas do século 20 são marcadas por grandes mudanças no cenário brasileiro e mundial. A Primeira Guerra Mundial (1914 -1918) precipita várias demandas econômicas e de produção no Brasil, por um lado, e por outro artistas e intelectuais passam a sentir uma necessidade de se atualizarem em seus contextos. 

Ainda muito presos ao academicismo e às influências francesas da Belle Époque, alguns jovens de São Paulo, intelectuais e artistas começam a sentir a necessidade de uma renovação das artes, ao mesmo tempo que se engajam em uma busca de identidade nacional, retomando as raízes culturais do país. Tudo isso, acrescido do contato com as vanguardas europeias e a proximidade dos festejos do primeiro centenário da Independência, confluem na eclosão do Modernismo brasileiro com a Semana de Arte Moderna de 1922. 

Legenda: Cartaz da Semana de Arte Moderna do ano de 1922: ano importante para a história do Brasil e da Votorantim 

Celebrando a Independência  

Ainda no ano de 1922, para celebrar os 100 anos da Independência do Brasil (1822), foi organizada a Exposição Internacional do Centenário da Independência, que aconteceu no Rio de Janeiro, de 7 de setembro de 1922 a julho de 1923.  Em suas galerias transitaram mais de 3 milhões de pessoas, visitando mais de 6 mil expositores de diversos países, totalizando 14 nações envolvidas.  O objetivo da exposição era mostrar ao mundo como o Brasil era uma nação moderna, por meio de temas que representavam os mais diversos aspectos da vida social, cultural e econômica brasileira, além de comemorar os 100 anos da independência política do país. 

Os diversos pavilhões foram construídos especialmente para a exposição, provocando mudanças urbanística e arquitetônica na cidade. Além do Memória Votorantim, o Arquivo Nacional guarda um acervo interessante sobre estes edifícios e as histórias da Exposição. 

 

A Votorantim e o Cinema: Mostrar ao mundo que somos modernos 

A Primeira Guerra Mundial tem seu desfecho no ano de 1918, na Europa. Com isso, a Exposição Internacional foi um dos primeiros eventos internacionais inaugurado após o conflito, e carregava a intenção de transparecer a modernização das nações envolvidas, deixando para trás os retrocessos da Guerra. O governo brasileiro, então, patrocinou a produção de filmes e documentários que representassem os mais diferentes aspectos da sociedade brasileira, como as artes, comércio e indústria. A presença do cinema no Brasil era recente, o que o tornava uma novidade e pouco acessível. 

Diversos estúdios foram selecionados pelo Governo, dos mais variados estados brasileiros, para produzir filmes e documentários a serem exibidos na exposição. O Estado de São Paulo era representado pelo estúdio Independência Film, de Augusto Pamplona e os irmãos Del Picchia, Menotti e José, cuja reputação transcendia a própria Exposição, visto que Del Picchia e Pamplona são famosos por suas participações da Semana de Arte Moderna. O estúdio deveria produzir um filme de cinco partes, abordando diferentes aspectos da cidade: histórico, panorâmico, industrial e comercial, agrícola e administrativa. 

Para representar a parte industrial, uma moderna Fábrica de Tecidos foi escolhida por ser uma fábrica modelo. Possuía mais de 2 mil operários, maquinários modernos, uma estrada férrea suprindo suas necessidades logísticas, uma usina hidrelétrica de grande porte gerando energia exclusivamente para a tecelagem. 

Era a Fábrica de Tecidos Votorantim, da Sociedade Anonyma Fábrica Votorantim (SAFV), empresa de Antonio Pereira Ignacio. O filme é dividido em 9 partes, destacando o papel de Antonio Pereira Ignacio no desenvolvimento da fábrica e da região, as estradas de ferro, a área de fiação, a tecelagem em si, a sessão de flanelas, a serraria, a vila operária, as usinas de cal e as outras áreas industriais que pertenciam à SAFV. 

O documentário é hoje parte do acervo do Memória Votorantim e marca um período importantíssimo das artes, da sociedade e da economia brasileira.